terça-feira, 25 de outubro de 2016

Falando no blog sobre depressão

Quando eu fiz esse blog, uns 5 anos atrás eu fiz pra tentar fugir da carga pesada e depressiva do outro, mas como uma pessoa que já fez muita terapia e se conhece, eu aprendi que é importante escrever quando estou triste porque consigo me centrar melhor, então lá vamos nós.
Desde que ser fui diagnosticada com a depressão moderada eu aprendi a ficar de olho, vigilante constante pra saber se ela vem se aproximando e tem uns dois dias que me peguei aqui com ela, o primeiro sinal foi estar passeando com a minha cachorrinha e sentir saudades de uma sala de terapia. De falar. O segundo foi fazendo arroz vendo que ainda precisava cozinhar mais um pouco, só que mais do que isso, a minha urgência batendo no peito era de vontade de gritar. Quem me conhece sabe que eu falo baixo, frequentemente nem me escutam e eu preciso repetir, mas há vontade de gritar no meu peito.
Então aqui, com a minha terceira amiga da depressão, a senhora insônia, eu estava lendo umas notícias na internet e vi um vídeo onde uma moça interpreta uma poesia onde tentam explicar pra mãe como a gente se sente com a depressão. Eu que por tantas vezes me senti curada, chorei ao ponto de preocupar a minha cachorrinha, respondendo as perguntas da mãe antes da intérprete no monólogo, como se fosse escrito por mim o texto.
Vou colocar aqui o texto pra que vejam e entendam mais sobre como a gente se sente.

"Mãe, minha depressão é um metamorfo. Um dia ela é tão pequena quanto um vagalume na pata de um urso, e no próximo dia é o urso. E nestes dias eu me finjo de morta até que o urso me deixe sozinha.

Eu chamo os dias ruins de dias negros. (eu costumo dizer que tô no meu dark place) Minha mãe me diz: “tente acender velas”. Quando eu vejo uma vela eu vejo o brilho de uma igreja, a tremulação de uma chama, as faíscas de uma memória mais jovem que o meio dia. Eu estou de pé ao lado de seu caixão aberto. É o momento em que eu aprendo que cada pessoa que eu já conheci irá algum dia morrer. Além disso, mãe, eu não estou com medo do escuro, talvez isto seja parte do problema. 

Minha mãe me diz: “eu acho que o problema é que você não consegue sair da cama.” Eu não consigo. A ansiedade me mantem refém dentro de minha casa, dentro de minha cabeça. 

Minha mãe me diz: “de onde a ansiedade vem?” Ansiedade é o primo de fora da cidade fazendo uma visita, que a depressão se sentiu obrigada a levar para a festa. Mãe, eu sou a festa. Só que sou uma festa que eu não quero ser.

Minha mãe me diz: “por que você não tenta ir a festas de verdade e ver seus amigos?” Claro, eu faço planos. Eu faço planos, mas eu não quero ir. Eu faço planos porque eu sei que eu deveria querer ir. Eu sei que algumas vezes eu gostaria de ter ido, é que, simplesmente não é muito legal se divertir, quando você não quer se divertir, mãe.

Sabe, mãe, toda noite a insônia me pega em seus braços, e me larga na cozinha no tênue brilho da luz do fogão. A insonia tem esse jeito romântico de fazer a lua parecer uma perfeita companhia. 

Minha mãe me diz: “Tente contar ovelhas”. Mas minha mente só consegue contar razões para eu ficar acordada. Então eu saio para caminhar. Mas meus joelhos disfêmicos fazem “clack” como colheres de prata, seguradas em braços fortes com pulsos frouxos. Eles tocam na minha cabeça como desajeitados sinos de igreja. Me lembrando que eu estou sonambulando num oceano de felicidade que não posso me batizar nele.

Minha mãe me diz que: “ser feliz é uma decisão.” Mas minha felicidade é tão vazia quanto um ovo furado por uma taxinha. Minha felicidade é uma febre fervente que vai estourar.

Minha mãe me diz que: “eu sou tão boa em fazer algo do nada, e depois na cara dura me pergunta “se eu tenho medo de morrer?”. Não, eu tenho medo é de viver. 

Mãe, eu estou sozinha. Eu acho que eu aprendi, quando o papai foi embora, a transformar a raiva em solidão e a solidão em ocupação. Então, quando eu te digo que eu tenho estado super ocupada ultimamente, eu quero dizer que ando caindo no sono assistindo o noticiário esportivo no sofá para evitar confrontar o espaço vazio na minha cama. 

Mas minha depressão sempre me arrasta de volta para minha cama, até que meus ossos sejam os fosseis esquecidos de uma cidade esquelética afundada, minha boca um cemitério de dentes quebrados de tanto morder a si mesmos. 

O auditório vazio de meu peito desmaia com ecos de batidas do coração. Mas eu sou uma turista descuidada aqui, eu nunca vou verdadeiramente saber todos os lugares que eu estive.

A minha mãe ainda não entende. Mãe, você não consegue perceber… que eu também não?"

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